Olhos, França, Saudades…

Não escrevo mais há séculos…
A verdade é que me falta tempo e me falta inspiração «puede ser que suene muy desafinado, es que me desafina el corazón»
O mês de junho apesar de festivo, foi triste como poucas coisas conseguem ser. As famílias diminuem, e o coração da gente parece que murcha mais um pouco.
Saindo de um velório e entrando em outro, as dores acabam por multiplicar-se.
Minha avó agora mora definitivamente com meu avô de novo…
Quinze dias antes, funções de velório, e eu que nunca havia tocado alguém frio, toquei uma vó.
Após quinze dias… Toquei a minha própria.
Ontem, eu fui ao cemitério e chorei o quanto a alma agüentava. Conversei, rezei. Talvez alguns entendam, e talvez não, minha vó era muita representação da minha infância, morava no campo, e fazia coisas bacanas…
Penteava meu cabelo comprido, e fazia chá de folhas queimadas pra curar minha tosse, me dava favinhos de mel pra chupar…
Minha vó Emília tinha um fogão a lenha, e bichos que as crianças modernas não conhecem.
E cada vez que eu ia a uma feira de filhotes e ganhava um pintinho, era a vó que cuidava dele, afinal de contas, num apartamento não dá pra ter uma galinha. Ela me prometia todos os ovinhos, e cumpria, quando eu chegava elas os tinha em uma caixinha. Cozinhava um, colocava sal, gema bem alaranjada…
Minha avó punha uma lata de bolacha pra eu sentar em cima… Minha avó fazia bolachinha de Natal pintadinha com açúcar colorido. Minha avó tinha sotaque alemão engraçado.
Minha avó tinha olhos azuis da cor do mar. Minha avó me ensinou a rezar e entender alemão.
Minha avó não tem mais corpo, mas respira e tem alma dentro do coração de cada um que por ela tinha amor…
E fazia aniversário em abril, dia oito, junto comigo, e fosse qual fosse o dia/mês, ela me desejava feliz aniversário, logo entre os quarenta e tantos netos, do meu aniversário ela nunca esquecia…
Após noventa e três anos, ainda assim, eu achei que a minha avó viveria para sempre.